segunda-feira, 28 de abril de 2008

Segunda é dia da preguiça...


"A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda."
(Mário Quintana)
Anna Jailma

domingo, 27 de abril de 2008

Amo Quintana. Amo!


Tão bom viver dia a dia...
A vida, assim, jamais cansa...
Viver tão só de momentos
Como essas nuvens do céu...


E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.


Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!


E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...


(Canção do Dia de Sempre - MÁRIO QUINTANA)





Anna Jailma

Leitura de Mão


Será que chora?
Será que acalenta?
É a mesma que ora
E a mesma que tenta?

Qual a ação da mão...
Sob o lenço
Sob o coração...

Será um coração de papel
Ou um papel de coração?
Será uma noiva de véu
Ou mulher em ação?
Anna Jailma

Moda X Estilo: eis a questão!

Foto: style clicker
Essa coisa de moda me deixa intrigada. Não entendo como muitas pessoas passam horas a fio, folheando revistas, tendo a "grande" preocupação de saber "o que está na moda"... Minha moda é inventada por mim, porque visto o que tem a ver comigo, com meu jeito de ser, com meu estilo. O que visto é reflexo de mim, é o que "cai bem" no meu corpo e no meu jeito de ser.
Gosto de estilo hippie, roupas que me deixam confortável, descontraída, com um caimento leve. Se isso está ou não na moda, pouco me importa. Tenho uma pantalona que uso desde 1997 e pra mim, ela é fashion sempre!
As vezes faço opção por um macaquinho com jeito de moleca. Outras vezes, já prefiro uma calça jeans ajustada ao corpo, com uma blusa decotada ou deixando a costa nua...com salto ou mesmo uma rasteira leve, leve como pluma. E raras vezes, tenho vontade de usar um blazer, um estilo sóbrio... Tudo depende do meu estado de espírito: descontraído, sóbrio, moleque ou ousado...
Não consigo me imaginar com calça de cós alto e muito menos com um tipo de bota que surgiu agora, que deixa os dedinhos dos pés de fora como se fosse uma sapatilha...Não gosto de meio termo. Pra mim, se é bota é bota...se é sandália, é sandália, ora bolas! Uma sandália que sobe pela perna, adooooooooroo, mas, sapatilha é no mínimo, estranho.
Também acho fora de órbita, alguém usar botas em pleno calor sertanejo, simplesmente porque "esta é a tendência outono/inverno..." Isso é pura falta de desconfiômetro... Um dia desses comentaram que não deve-se usar bolsas grandes à noite...agora tem que ser as minúsculas. Eu uso a que eu quiser e adoro fazer diferente! E detesto sair por aí rotulada, como se estivesse de uniforme.
Gosto não se discute! E o meu gosto não discuto, não deixo que ninguém meta o dedo, nem a Gisele Büdchen, nem a Luíza Brunet, que considero a bela das belas, nem a Glória Kalil, que é mestra no assunto. Minha moda faço eu, de acordo com meu estilo, meu corpo e meu espírito.


Anna Jailma

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Florânia, que já foi flores...



Fui em Florânia, cidade das flores, dos amores, de muitas cores em cada canteiro, Florânia que já teve o nome de Flores. Gostei de passear na praça de Florânia, entrelaçando-se nas rosas, observando cada detalhe na diversidade de flores. Gostei de observar os gestos simples dos floranienses, que sorriem enquanto falam, mostrando uma espontaneidade própria do sertanejo do meu Seridó.
Fui a Florânia com meu namorado e a cidade com suas flores e paisagens me lembrou uma poesia que fiz há algum tempo...


Entrega

Me rendi em laços
Enxerguei no escuro
Fiz dos abraços
Um porto seguro
Mergulhei a esmo
Nadei sem água
Caminhei sem mágoa
Amei sem termos
Corri nos canteiros
Esbarrei numa rosa
Me afoguei no cheiro
Fiz verso e prosa

Anna Jailma

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Abri a janela e vi: CELUCA...


Sempre gostei de abrir janelas (literalmente e no sentido figurado), contemplar o mundo por diversos ângulos, por diversas óticas. Nestas janelas que abri, está incluso um curso de reforma íntima, uma espécie de "auto-conhecimento", na CELUCA - Casa Espírita Luz e Caminho.
Quase final de julho e eu estava vivendo uma época de mudanças, quase "metamorfoses", morando sozinha em Campinas SP, residindo próximo ao Bosque dos Jequitibás, com dúvidas profissionais e pessoais que mais pareciam (ou eram...) entraves na minha vida. Numa manhã decidi ir ao bosque e num "estalo", sem nem entender "porquê" levei comigo um lápis e um papel...no caminho vi uma casa de jardim, e avistei a faixa que indicava o curso de reforma íntima, recém-iniciado naquele local.
Iniciei o curso atraída pela proposta do auto-conhecimento e também pela curiosidade em conhecer a doutrina espírita. Dos meses em que assisti aulas na CELUCA ficaram a lição da caridade, da profunda entrega nos momentos de oração, do elo forte e sólido entre cada um de nós e Deus, "de que tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém" (esta frase li na camiseta de adolescentes da CELUCA e nunca esqueci...Permanece em mim a certeza de que os nossos entes queridos que se foram, estão bem mais próximos de nós que imagina nossa vã filosofia...e que os anjos da guarda, ou anjos de luz, estão aqui nos protegendo; independente de sermos crianças, adolescentes ou adultos...
Confesso que meu curso na CELUCA não me aprofundou no conhecimento sobre a doutrina espírita, até porque interrompi a sua conclusão, com meu retorno ao Nordeste; mas, o período no curso de reforma íntima, foi uma sábia experiência sobre minha personalidade, meu eu, minhas qualidades, meus defeitos...(ah, são tantos!) e até o controle destes defeitos.
Continuo católica (uma católica bem crítica sobre vários aspectos...) mas, os espíritas kardecistas da CELUCA, nas aulas, nas entrevistas, nos momentos de ouvir mensagens ao som de música instrumental, me deixaram uma linda lição sobre o que é perdão, amizade, caridade e proximidade com Deus e Maria...Uma proximidade tão forte que para ser sentida basta que deixemos entrar na nossa janela, o silêncio e a oração; que vem do coração, da alma...


Anna Jailma

Eu vi e posso contar...


Morei na rua Uruguaiana, no bairro Bosque, em Campinas, SP. Esta rua fica próximo a um dos lugares mais aconchegantes de Campinas (na minha humilde opinião), o Largo do Pará. Era naquele largo que eu passava para lá e para cá, indo e vindo ao centro comercial de Campinas, indo ao trabalho, indo e vindo...Cada vez que no Largo do Pará passava, eu observava cada detalhe daquela praça: crianças no parque, idosos nos bancos à ler jornais, mendigos.
Com o desenrolar dos dias um personagem daquele cenário me chamou a atenção: um senhor de cabelos grisalhos, que vivia por lá...Criei um nome pra ele e não poderia ser outro...simplesmente Zé. A ele dei também o talento de tocar flauta, porque algo na imagem dele me lembrava um flautista. E o observando, nas minhas idas e vindas, criei este conto abaixo...

P.S Ao concluir a leitura indague a você mesmo, quantos "Zé's" você conhece...


Zé Ninguém




Imagino que seu nome seja Zé. Simplesmente Zé. Eu o vejo sempre. Nunca conversamos. As pessoas passam por ele e não o vêem. Ninguém enxerga o Zé... O Zé Ninguém. Ele permanece lá, no mesmo lugar. Alto, magro, negro, tem cabelos esvoaçantes e brancos.
O Zé tem cabelos brancos, embora sua idade seja, aparentemente, entre 40 e 50 anos...E fico a imaginar: terá filhos, netos, já amou alguém? Será que foi amado por um momento, um segundo... O que fez o Zé parar naquele lugar? Será que a vida lhe pareceu tão dura e árdua, que ele preferiu isolar-se? Ou será que o isolaram?
Talvez, no egoísmo da sociedade moderna, a família o tenha sentido como um fardo e tratado de se livrar do Zé. Como pode alguém viver sozinho, numa praça? É, uma praça! Há árvores, parque infantil, um coreto de arquitetura do início do século XX.
É um lugar bonito, com uma fonte que atrai muitas crianças. Alegres, elas pulam e brincam de um lado para outro, molhando as mãos e salpicando uns aos outros. Falam alto, gritam eufóricas, riem felizes... O Zé as observa como se estivesse resgatando o passado.Como se aquilo não fosse o presente que lhe cerca e sim uma visão dos dias de outrora.
Ele perambula para lá e para cá, sempre com as mesmas roupas e a mesma postura, um ar cansado, como se tivesse trabalhado... trabalhado... até a exaustão. O seu calçado preto, de borracha, não faz barulho ao caminhar, exceto quando pisa nas folhas secas.
Às vezes parece não me ver passar. Outras vezes me olha, como se pensasse em várias perguntas. Não parece disposto a responder às minhas indagações. Ele tem um olhar distante como se enxergasse um mundo diferente do que o cerca. O que será que enxerga o Zé? Provavelmente não entende a pressa desenfreada dos que por ali passam, muito menos o barulho dos carros frenéticos, buzinando incessantemente; dos caminhões que soltam uma fumaça escura e insuportável, das motos que correm contra o tempo.. Vejo isso quando passo... Mas o Zé está estático, com aquele olhar perdido, vendo as crianças no balanço que vai pra lá e pra cá... Caminha lentamente, pisa devagar nas folhagens, deita na grama, toca flauta. Isso mesmo! O Zé toca flauta. Não consigo entender que música ele toca, talvez nem ele saiba...
Ele vive sem televisão, computadores, celular, sem os aparelhos de som e demais itens eletrônicos, tão fundamentais a nossa existência. Acredito que o Zé daria risada disso. Nós, que nos julgamos experientes e capazes, somos tão dependentes da era moderna e de seus acessórios! E de repente o Zé me remete ao Baudelaire: ambos têm aversão a esta ânsia desenfreada pelas máquinas da modernidade. Os dois, Zé e Baudelaire, tão distantes, tão próximos... Consigo imaginá-los batendo papo na praça.
Pela aparente idade do Zé, ele não deve ser aposentado e não tem trabalho. Desempregado... Vida difícil, a do Zé... Será que ele não recebe alguma renda? Eu nunca o vi pedindo dinheiro. Meu Deus, como ele sobrevive?! Será que um dia conseguirá aposentar-se? Não consigo imaginá-lo em filas de banco, estressando-se com o tempo que não passa, o funcionário que conversa no telefone ou com alguém ao lado, enquanto a fila não anda... Ou ainda esperar pela mocinha responsável pelas instruções do caixa eletrônico, que parece perdida diante de tantas dúvidas...
É bem provável que o Zé nem tenha idéia das filas do INSS. Ele conforma-se com as lembranças, com seu mundo interno, aquele que existe distante, onde somente seu pensamento alcança. Este Zé... Na fome, no frio, no calor, sobrevive... Se perguntassem ao Zé aquela pergunta tola que fazemos a todos que conhecemos e até ao nosso espelho, aquela pergunta tão essencial: “O que você faz da vida?”, o Zé, na sua simplicidade, certamente responderia: “vivo”. Cobramos realização profissional, sucesso, topo, queremos alcançar a felicidade plena, o amor perfeito, os amigos exemplares, a profissão invejável, o melhor carro, uma mansão, belos filhos, família ímpar... E nem sempre estamos em paz... Já o Zé tem uma paz plena que emana de si próprio.
Meados de maio e o inverno já é o dono do pedaço no Estado de São Paulo. O mundo fica cinza, frio, vento gelado. Passo na praça e lá está o Zé, de cabelos bem cortados, com a mesma jaqueta e calça preta, em contraste com a camiseta branca. Na praça, há água acumulada em vários pontos, a areia ao redor do parque infantil está escura de tão molhada, não há crianças, nem o sorveteiro e tudo contribui para o ambiente parecer mais frio.
Pensei em trazer uma sopa quente para o Zé e meu olhar o buscou na praça... Naquele fim de tarde, o Zé parece mais feliz: está num banco da praça e, ao seu lado, uma moça de uns 30 a 35 anos, aparentemente. Ela conversa animadamente, parece lhe explicar alguns fatos, pois suas mãos gesticulam e fazem desenhos com os dedos na água do banco, onde estão sentados. Ela sorri, parece feliz e o Zé nada diz. Balança a cabeça em sinal de afirmação... Quem seria ela? Namorada? Esposa? Filha?
Caminho devagar pela praça e, embora já distante dos dois, continuo pensando naquela imagem: o Zé e uma moça conversando na praça. O que ocorreria após a conversa? Seria, aquele momento, um instante decisivo na vida dele? Ela parecia conhecê-lo e, ao lado deles, havia uma sacola enorme, cheia de roupas. Será que ela teria trazido roupas para o Zé? Ou estaria levando-o dali?
Sigo com minhas suposições e novas perguntas, agora sobre a existência daquela nova personagem, que invade minha história... Nesse mesmo dia, retorno à praça, e o Zé não está lá. Desde aquela tarde, nunca mais o vi... Talvez, um dia, ele volte ao Largo do Pará no centro de Campinas, talvez no próximo verão.


Anna Jailma.

Balanço da poesia


Desde criança gosto muito de balanço. Balanço lembra liberdade, infância, alegria...E na vida, de uma forma ou de outra, o balanço está presente, o vai e vem...Até hoje, com meus 30 e poucos anos, quando vejo um balanço não resisto: vou lá balançar pra lá e pra cá...Que não morra a criança que existe em mim.
Observando o balanço me veio a mente esta poesia...

Balanço

Balanço que vem e vai
Parece com o curso da vida
Balança mas não cai
E segue curando ferida

Na infância o balanço é puro
Na adolescência colorido
Não deixe que fique escuro
Na maturidade deixe florido

São tantos os balanços da vida
Sempre indo e vindo
São desafios na lida
O segredo é seguir sorrindo

Balanços são tantos
Aqui, ali e acolá
Se cair, não vale o pranto
Volte a balançar e sonhar


Anna Jailma

terça-feira, 8 de abril de 2008

Meu Quixeré



Nesta primeira janela, que se abre de mim, irei ilustrar o Quixeré. Meu Quixeré, Quixeré de tantas negras, mulatas, das "morenas de Angola", mestiças. Quixeré da mina, da sheelita louca na bateia, da barragem que foi embora e foi reconstruída, da Capela de São Sebastião, idealizada pela minha avó Francisca Catarina, da Casa do Alto de bailes e mesa larga...O Quixeré das banquetas, das inúmeras faveleiras, pereiros, oiticicas, umbuzeiros, pé de laranja, pé de cajarana. O Quixeré do "arrasta pé" no terreiro, ao som do fole, do zabumba... Meu Quixeré tem muitas imagens, algumas coloridas, outras em preto e branco. Quixeré do meu pai, do bangalô, da cerca de pedra, da favela que machucava meu pé quando criança. Quixeré de túneis que me assustavam quando criança e ao mesmo tempo encantavam, quando lembrados nas histórias da Mina; relatadas como contos de fada...Quixeré das férias, do leite bebido no curral, do banho no Poço das Mulheres ou na barragem transbordando. Quixeré Quilombo, conquista de um negro nascido na Lei do Ventre Livre, conquista de meu avô paterno João Ursulino de Maria.
Quixeré do canto de Bosco ecoando pela caatinga, do som da costura de Francisca, do som da bateia de Mariêta, da presença de João do bangalô, da mansidão de Chagas, do José que buscava ouro na terra seca, da Rita que foi tão cedo, da Verônica tão vaidosa, de Nevinha tão bela, de Joaquim idealista, do Aderaldo sonhador, do Manoel que apostou em São Paulo e do Adelso que apostou no Pará...
Quixeré dos que se foram, dos que permanecem e dos que virão. Quixeré és tão vivo e reluzente quanto nos anos dourados da Mina de Sheelita, porque seu brilho é eterno, seu brilho é sua gente.
Fotografias: albúm de família
Anna Jailma